Foto e Sentido – Escrevivencias Fotográficas

Um corpo de Verão

Como as Plus Size desafiaram a estética padrão e os olhares no litoral de Salvador

Foto – Gustavo Medeiros

Por Gustavo Medeiros

Verão, sinônimo de corpos sarados desfilando nas praias e expostos ao sol em busca do bronze perfeito. Entretanto, em meio ao calor de quase 40°C na costa litorânea de Salvador, um grupo de mulheres resolveu revolucionar, contrapondo-se a lógica da estética imposta pela grande mídia e provaram que um corpo de verão é algo subitamente relativo. Elas mostraram que o corpo gordo, com dobras e curvas avantajadas pode sim participar dessa lógica, sendo ele próprio,sem retoques e nem maquiagens, sem fantasias corretivas de Photoshop para serem vistas e curtidas no Instagram.

Esses corpos gordos ganharam os holofotes e conquistaram os espaços em sites noticiosos,telejornais e programas locais, bem como na mídia alternativa. As nossas verdadeiras musas colocaram a “cara no sol” e mostraram que #vaitergorda em qualquer lugar.

Se alguém lembrar como foi o verão de Salvador no ano de 2019 em imagens, vai ver mulheres de corpos relativamente perfeitos desfilando de biquíni nas principais praias, de Stella Mares à São Tomé de Paripe. Essas grandes mulheres, abrilhantadas com a aparição especial de Thaís Carla ( Aquela que ficou conhecida como a dançarina de Anitta), dominaram e disseram para o que veio, quebrando as regras do jogo estético, da ditadura mítica dos “corpos de verão”, em modo “afrontoso”.

Além dos olhares de soslaio,que denunciam inveja e indiferença, os verdadeiros corpos de verão são a síntese concreta e real da mulher brasileira cantada e recantada pelos poetas e compositores em odes,homenagens e delírios orgasticos. Essas são as “toda boas”, as “toda grandonas” e foram as “donas da porra toda”, impondo novos questionamentos aos setores que ousam sempre a impor um padrão estético excludente e psicologicamente violento. Para elas, o verão de Salvador em 2019 foi inesquecível.

@gugafotojornalista

Uma Salvador além do olhar

Uma cidade para além das percepções

Foto – Gustavo Medeiros

Por Gustavo Medeiros

Salvador, cidade de pontos turísticos famosos, conhecidos, mas também há espaço para conhecer lugares simples, envolto de belezas singulares.

A fotografia me fez descobrir lugares que vão além de uma lente 50 mm, espaços onde o véu do anonimato se descortina diante de um olhar mais sensível. Está ali, na Festa do Marujo, organizado anualmente por Dona Dadá na Feira de São Joaquim, ou então, no presente ecológico lançado ao mar para saudar Iemanjá, iniciativa coerente dos pescadores do Solar do Unhão, espaço de vida própria, onde a resistência é regra.

Pode ser um olhar distante e, ao mesmo tempo, perto. Essa é a sensação que tenho ao avistar, do mar da Ribeira, as ruínas daquela fábrica de tecidos que fica próximo a linha do trem em Plataforma.

Além,e abaixo, de qualquer monumento histórico e estético importante, uma grande riqueza com potencial turístico e estético é escondido. É só desenvolver o olhar e descobrir fundo, ir longe, viajar nas entrelinhas de qualquer cartão postal. Pode ser a vista do bairro do Comércio entre as mangueiras do antigo Zanzibar ( de onde se vê a Cruz Caída por outro ângulo), detalhes de quem olha o Elevador Lacerda em seu perfil completo.

Em seus 470 anos, é possível ver Salvador além da cidade pronta para o turista ver, aquela que foi moldada para ser consumida. É só desenvolver a percepção de quem chega a capital por meio do mar da Baía de Todos os Santos e vê, do Ferry Boat, a torre da Igreja dos Mares em sua arquitetura gótica, o que pouco se acha por aqui.

@gugafotojornalista